Antes de mais nada, William de Ockham* foi um frade franciscano e filósofo inglês nascido em 1288 no vilarejo de Ockham, Inglaterra. Estudou matemática e ciências filosóficas na universidade de Oxford e escreveu vários livros e teorias ao longo de sua vida.
Entre elas, a que mais se destaca é a que recebeu o nome de navalha.
“Navalha de Occam é o nome dado à teoria que diz que, entre duas ou mais soluções que resolvem um mesmo problema, deve-se optar pela mais simples”
Ockham acreditava que todo o conhecimento racional tem base na lógica e necessita das informações absorvidas pelos sentidos. Nesse sentido ele chegou à sua máxima “pluralitas non est ponenda sine neccesitate” (pluralidades não devem ser postas sem necessidade, traduzindo para o português).
Em outras palavras, se há algo a ser entendido e vários caminhos levam a várias conclusões diferentes, o caminho que tiver menos elementos deduzidos – que você tiver menos lacunas a preencher – é provavelmente o mais correto.
*existem várias grafias para o nome: Ockham, Ockham, Occam, Auquam, Hotham e Olram. Por razões que eu não sei responder, o meio acadêmico utiliza Ockham quando se refere ao autor e Occam quando se referem à teoria.
É noite, você está na porta de sua casa, olha para o alto e vê um objeto passando muito alto por, numa velocidade impressionante. Você acha bastante estranho, pois sua casa não faz parte de nenhuma rota de avião.
Vamos aplicar a navalha então: Quais as informações você tem?
Com base nisso, o que esse objeto pode ser?
O senso comum tende a descartar rápido demais as informações mais simples através de conhecimento impreciso, por exemplo, “se não está não está na rota de aviões, não é um avião”. Será que esse pensamento está de acordo com as probabilidades?
A Navalha de Occam vai cortar as opções que precisam de maior quantidade de informações que você não tem:
Todavia para ser uma nave alienígena, é necessário que as seguintes informações, que você não tem, sejam verdadeiras:
Contudo, para ser um pássaro, é necessário que as seguintes informações, que você não tem, sejam verdadeiras:
Já para ser um balão, é necessário que as seguintes informações, que você não tem, sejam verdadeiras:
E por fim, para ser um avião, é necessário que as seguintes informações, que você não tem, sejam verdadeiras:
E aí, quais dessas afirmações são mais fáceis da Navalha de Occam cortar? Em conclusão ao nosso exercício mental percebemos que a explicação que necessita de menos sub-explicações é obviamente a do avião.
Em tempo, é importante saber que sim, pode ter sido uma nave alienígena, embora seja muito pouco provável. Mas também pode ter sido uma alucinação, que apesar de também ser muito pouco provável, terá menos perguntas sem resposta do que uma nave alienígena.
A Navalha de Occam não resolve o problema nem te dá a resposta. Ela te dá o ponto de partida para pesquisar. Antes de tudo a coisa mais fácil a fazer é pesquisar se algum avião teve que mudar de rota, ou se existem aviões clandestinos que podem passar por ali.
Se toda a sua pesquisa sobre aviões resultar em fracasso, só aí você vai pesquisar as possibilidades de ser um balão, analisar a velocidade do vento no dia… Se tornando inconclusivo você parte para o pássaro e, por fim, para a nave espacial, que vai ser um beco sem saída já que você não tem como verificar todas aquelas premissas. Cabe lembrar se você comeu algum cogumelo no dia.
Mas o importante é ter a Navalha no seu bolso o tempo todo para não cair em superstições, nem acreditar em coisas absurdas.